Quero o direito de me sentir triste. Sim, isso mesmo: o direito de viver a tristeza com toda a sua intensidade. Sem precisar escondê-la atrás de sorrisos forçados, filtros nas redes sociais ou frases motivacionais prontas.
Desde pequeno, sempre tive dias em que a tristeza me visitava sem pedir licença. Nessas horas, mergulhava em pensamentos profundos, tentando entender onde havia errado, o que precisava mudar, para onde deveria ir. Para pensar com clareza, para me escutar de verdade, eu precisava estar assim — pra baixo, recolhido. Não, não era depressão. Aliás, tudo hoje parece ser rotulado como depressão...
Quero o direito de sentir essa tristeza que não me paralisa, mas me transforma. Que prepara o terreno para a alegria brotar outra vez, como a primavera que só chega depois de um inverno. O verão só nos aquece depois que as flores se abrem, e minha alma também precisa desse tempo entre estações. Não quero me anestesiar com antidepressivos, nem com vitaminas ou promessas instantâneas de felicidade. Quero simplesmente sentir. Trabalhar minha tristeza como quem trabalha o solo — com as mãos sujas, mas com a esperança de flores.
Quero acordar feliz não por imposição, mas porque vivi a tristeza honestamente. Porque entendi que ela também faz parte de mim, que sua presença é passageira, mas necessária. Não existe luz sem sombra. Não existe verdade sem contraste.
Não quero fingir alegria no trabalho, nem nas redes sociais, nem nos encontros cotidianos. Quando a tristeza bater, quero poder acolhê-la como uma velha conhecida que veio me lembrar do que é essencial. Ela me chama à reflexão. Me faz repensar valores, recuperar a ética esquecida, olhar o mundo com os olhos inocentes — e coerentes — de uma criança.
Quero esse direito: o de me recolher à noite, não como fuga, mas como reencontro. Refugiar-me no silêncio da cama, nas minhas palavras e nas minhas ideias. E, assim, reconstruir cada amanhecer com mais sentido, mais verdade. Só então saberei quem sou e qual é minha missão como homem, como filho de Deus.